TUDO PASSA

Text by Heinrich Heine (1797-1856)

Ins Portugiesische übertragen von Aleksander Paterno

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Provei de todos os temperos, que temperam nessa acolhedora cozinha terrestre.
Diverti-me com tudo o que diverte neste mundo, errando, como se herói vagabundo.
Bebi do café, comi do bolo, possuí amiúde mulheres.
Cobri-me com a mais pura seda, trajei-me com os mais finos trajes.
Enquanto, é claro, as moedas ainda me sobravam nos bolsos dos fraques.
Ah, o quão galante eu cavalgava portentoso corcel,
Tinha uma mansão, também um castelo.
Vivia sob o ofuscante signo da felicidade.
O sol me saudava com amistosos raiares,
Uma coroa de louros cobria-me a fronte,
Ocorriam-me sonhos de rosas e primaveras infindas,
Era-mo tão sublime intuir,
Tornei-me lasso, tão esquecido das horas,
tão viciado em auroras.

Como se me voassem perdizes assadas à boca,
Então chegam os anjos, sacando garrafas de champanha das asas,
Puras visões, bolinhas de sabão.
Estouraram...

Agora me encontro sobre o orvalho da relva,
O reumatismo me toma as juntas,
O pejo d´alma se me aprofunda.

Ah, o prazer, o gozar, paguei-os com o mais amargo penar.
Fui pela amargura embriagado,
E por vermes cruelmente corroído.
Sombrias inquietações me afligiam,
Todos me cobravam, eu mentia.
Tive que emprestar de velhos agiotas e ricos mimados,
Acho que eu deveria mesmo é ter mendigado.

Agora estou cansado de fugir e correr,
Agora quero descansar, ter um leito para morrer.

Até mais ver, passai bem, irmãos de fé;
Sim, vou embora, tudo se acaba aqui, não é?

Então vêmo-nos lá em cima qualquer dia desses.


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